• Nicho 3 – Impacto da Pandemia e Resiliência Indígena

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O nicho 3 da exposição aborda temas cruciais para a compreensão do impacto da pandemia de Covid-19 nas comunidades indígenas, começando com um panorama do cenário social e político durante este período. A primeira parte explora como a pandemia foi noticiada nas aldeias, o acesso à saúde, as condições de sobrevivência e os ataques que as comunidades enfrentaram.

Em seguida, o foco recai sobre a vacinação, explicando por que os indígenas eram considerados grupos de risco e como a chegada da vacina foi recebida nas comunidades, além de traçar um paralelo com outros processos históricos de vacinação e o uso de conhecimentos tradicionais, remédios alternativos e sabedoria popular.

A terceira parte do nicho investiga a crise climática, propondo perguntas norteadoras como: por que a reivindicação de terras é uma pauta recorrente para os indígenas? Qual é a relação dos indígenas com a natureza? E por que são conhecidos como protetores da natureza? Esses temas ressaltam a resiliência e o papel fundamental dos povos indígenas na preservação do meio ambiente.

Dia dos Povos Indígenas

No Brasil, o dia 19 de abril é comemorado como o Dia dos Povos Indígenas, uma data dedicada a reforçar a luta por direitos e reconhecimento das diversas vivências desses povos, que há mais de 500 anos enfrentam ameaças à sua existência. De acordo com o IBGE, existem pelo menos 305 etnias que falam 274 línguas diferentes no país, e a demarcação de terras é a principal demanda desses grupos.

Liderança Indígena do Rio Negro Reforça na ONU Combate à Discriminação contra as Mulheres

No dia 20 de maio de 2024, Janete Alves, do povo Desana e diretora da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), representou as mulheres indígenas da Amazônia no Comitê para a Eliminação da Discriminação contra as Mulheres (Cedaw) da ONU, em Genebra, na Suíça. Janete, liderança de Iauaretê, distrito de São Gabriel da Cachoeira (AM), destacou as pressões sofridas pelas mulheres da região, como a invasão de garimpeiros, que contaminam a água e os peixes com mercúrio, e o tráfico internacional de drogas.

Na ONU, Sonia Guajajara Defende Liderança Indígena no Processo de Justiça Climática

Sonia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas, encerrou sua segunda missão internacional de 2024 com um discurso na ONU, em Nova York, na abertura do 23º Fórum Permanente das Questões Indígenas. Ela defendeu a Justiça Climática e destacou que cerca da metade dos minerais da transição energética e boa parte do potencial de energia renovável estão em territórios indígenas, exigindo a presença desses povos nas negociações ambientais. Guajajara propôs estratégias políticas e projetos de energia renovável liderados por indígenas para promover capacitação econômica e coesão social, alertando contra o aumento das violações de direitos indígenas e o crescimento do racismo ambiental.

Na ONU, Lideranças Indígenas Acusam Descaso no Combate à Covid pelo Governo Federal

Lideranças do povo Yanomami denunciaram na ONU o descaso do governo do então presidente Jair Bolsonaro no combate à Covid-19 entre as comunidades indígenas. Durante a 45ª sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, Maurício Yekuana, da Hutukara Associação Yanomami, afirmou que declarações de Bolsonaro incentivavam o garimpo ilegal e pediu ajuda internacional para os indígenas brasileiros.

O Subsistema de Saúde Indígena

Desde a criação da Funai em 1967, várias instituições governamentais atenderam as populações indígenas. Em 1999, foi criado o subsistema de saúde indígena do SUS, organizado em 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dsei). Em 2010, devido à pressão do movimento indígena, surgiu a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), vinculada ao Ministério da Saúde.

Primeiro Caso de Covid-19

O primeiro caso confirmado de Covid-19 entre indígenas brasileiros foi de uma jovem de 20 anos do povo Kokama, em 25 de março de 2020, no município de Santo Antônio do Içá, Amazonas. O contágio ocorreu por meio de um médico vindo de São Paulo a serviço da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI). Atualmente, os Kokama são os mais afetados em termos de mortes.

A Chegada da Covid-19 nas Aldeias

Junho 6, 2020 – Covid-19 chega no Vale do Javari
Casos de Covid-19 foram confirmados em três indígenas do Vale do Javari, onde vivem indígenas isolados, e mais de 15 indígenas apresentaram sintomas da doença. A suspeita é que a contaminação ocorreu através de um funcionário da saúde.

Junho 14, 2020 – Covid-19 chega no território indígena do Xingu

Em 14 de junho de 2020, a Covid-19 chegou ao território indígena do Xingu, vitimando um bebê da etnia Kalapalo.

Junho 26, 2020 – Com garimpo, Covid-19 chega nos Ye’kwana

Em 26 de junho de 2020, ao menos 15 Ye’kwana da Terra Indígena Yanomami estavam com Covid-19, possivelmente trazida por garimpeiros ilegais.

Aldeia Massapê, localizada no rio Itacoaí, Terra Indígena Vale do Javari (AM).

Aldeia Tangurinho do povo Kalapalo, no sudeste do Parque Indígena do Xingu, fazendo limite com a fazenda São José do Tanguro.

Garimpo no rio Couto Magalhães, entre Papiu e Kayanau.

FUNAI Não Executa Orçamento para Covid-19 (Junho de 2020)

Em junho de 2020, a Funai recebeu mais de 11 milhões de reais em recursos emergenciais para a proteção dos povos indígenas, mas gastou menos da metade desse valor (39%).

Invasores, Garimpeiros, Madeireiros, Caçadores e Pescadores são uma Constante Ameaça aos Povos Indígenas

Durante a 20ª Sessão do Fórum Permanente de Assuntos Indígenas das Nações Unidas, nos dias 19 e 20 de abril de 2021, lideranças indígenas dos povos Mura, Maraguá, Karipuna, Kanamari, Makuxi e Guarani e Kaiowá denunciaram ao governo brasileiro as constantes ameaças de invasores, garimpeiros, madeireiros, caçadores e pescadores.


Indígena Uru-eu-wau-wau Morto em Rondônia Vinha Sofrendo Ameaças Havia Meses, Dizem Ambientalistas

Ari Uru-eu-wau-wau, indígena de 33 anos, foi morto no dia 18 de abril de 2020, em Tarilândia, distrito de Jaru (RO). Ele vinha sofrendo ameaças há meses, segundo uma liderança indígena Karipuna e organizações como WWF-Brasil, Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e Associação de Defesa Etnoambiental (Kanindé). De acordo com o Cimi, a morte de Ari já era prevista devido às ameaças contra líderes que defendem seus territórios contra invasores, incentivados pelo governo.

Povos Indígenas Denunciam Governo Brasileiro à ONU por Paralisação de Demarcações e Descaso Frente à Pandemia

Lideranças dos povos Mura, Maraguá, Karipuna, Kanamari, Makuxi e Guarani e Kaiowá denunciaram o governo brasileiro na 20ª Sessão do Fórum Permanente de Assuntos Indígenas da ONU em 2021. Eles destacaram a paralisação das demarcações de Terras Indígenas, a intensificação de conflitos e invasões, e o descaso com a saúde durante a pandemia de Covid-19, que tem afetado desproporcionalmente os povos indígenas. Acusam o governo Bolsonaro de genocídio.

Povos Indígenas e a Vulnerabilidade ao Novo Coronavírus

Os povos indígenas são especialmente vulneráveis a epidemias como a Covid-19 devido a condições sociais, econômicas e de saúde desfavoráveis em comparação aos não indígenas. A dificuldade de acesso a serviços de saúde, seja por distância geográfica ou insuficiência de equipes, amplifica a disseminação de doenças entre essas comunidades.

Indígenas da região do Alto do Rio Negro recebem atendimento médico durante a 36ª Ação Expedicionários da Saúde, Assunção do Içana.

Indicador de Vulnerabilidade das Terras Indígenas em Relação à Covid-19

O índice de vulnerabilidade mede o risco das Terras Indígenas em relação à Covid-19, com valores próximos de 1 indicando maior risco. A análise inclui dados sobre vulnerabilidade social, disponibilidade de leitos hospitalares, casos e óbitos por município, perfil etário, vias de acesso e estrutura de saúde indígena. A última atualização é de 27 de abril de 2020 (ISA/CSR-UFMG). Confira a nota técnica: [link].


Total de Casos e Povos Afetados*

– Indígenas mortos pela COVID-19 (maio de 2020 a janeiro 2023): 928
– Povos Afetados: 162

Entre maio de 2020 e janeiro de 2023, 928 indígenas morreram de Covid-19 e 162 povos foram afetados. Apesar da subnotificação significativa, esses números mostram a disseminação da doença pelas comunidades mais isoladas do país, atingindo tanto anciãos quanto jovens indígenas, configurando-se em uma tragédia histórica.

*Os números de casos confirmados e casos de óbitos apresentados representam o total de dados informados pela SESAI e apurados pelo Comitê Nacional de Vida e Memória Indígena. Entretanto, a falta de transparência dos dados da SESAI impede a identificação de muitas cidades onde os óbitos aconteceram.

Motivos para a Baixa Vacinação contra a Covid-19 entre Indígenas

A pandemia afetou desproporcionalmente os povos indígenas no Brasil, com apenas 48,7% tendo esquema vacinal completo, em comparação a 74,8% entre não-indígenas. A baixa cobertura vacinal é agravada por discriminação, violência, degradação ambiental e restrição territorial. Mesmo com a distância dos centros urbanos, o vírus se espalhou rapidamente nas comunidades indígenas, especialmente no início da pandemia.

Por que as Populações Indígenas Foram Menos Vacinadas contra a Covid-19?

Dificuldade de Acesso
A localização remota, como a dos povos Yanomami na selva, dificulta a vacinação indígena. Equipes de saúde levam dias para chegar, e materiais e medicamentos são escassos. Vacinas podem estragar sem refrigeração adequada. Mesmo em áreas mais acessíveis, os desafios persistem, com postos de saúde atendendo várias comunidades, dificultando o acesso para idosos e pessoas com mobilidade reduzida.

Fake news
Notícias falsas sobre a vacinação contra a Covid-19 chegaram às aldeias por boca a boca e redes sociais. Relatos incluem afirmações falsas de que mais de 900 indígenas no Xingu morreram por causa da vacina, levando alguns a se recusarem a se vacinar. Nenhuma região, incluindo áreas isoladas como a Amazônia e o Pará, está isenta das fake news.

Influência de Profissionais de Saúde Negacionistas

Pesquisadores no Xingu relataram que equipes de saúde, influenciadas por fake news e teorias da conspiração, impactaram negativamente a vacinação. A falta de incentivo e a propagação de informações falsas resultaram na baixa aceitação da vacina e aumento da mortalidade indígena. Isso afeta todas as etapas do atendimento, incluindo vacinação, tratamento e testagem.

Falta de Investimentos

A saúde indígena enfrenta desassistência devido à falta de investimentos. O Sistema Único de Saúde (SUS) enfrenta ameaças de colapso por falta de recursos, tornando o acesso à saúde para populações vulneráveis ainda mais precário. Dados levantados visam mostrar que atendimentos mais complexos requerem mais investimentos para evitar a desassistência.

Confira mais informações no estudo sobre a cobertura vacinal entre populações indígenas: [link].

Territórios Indígenas são os Mais Preservados do País

Os povos indígenas são fundamentais para a proteção do meio ambiente e para o equilíbrio climático do planeta. Um levantamento do MapBiomas mostrou que as terras indígenas perderam menos de 1% de sua área de vegetação nativa nos últimos 38 anos, enquanto nas áreas privadas a devastação foi de 17%.

As terras indígenas, que representam 13% do território brasileiro e contêm 19% da vegetação nativa do país, são cruciais para a preservação da biodiversidade e do equilíbrio climático. A ministra Sonia Guajajara destacou que, com 82% da biodiversidade global sob a guarda dos povos indígenas, proteger seus direitos é essencial para a preservação do planeta e da humanidade.

Povos Indígenas Brasileiros Decretaram Emergência Climática no ATL 2023

No 19º Acampamento Terra Livre (ATL), a APIB declarou que os povos indígenas são vítimas de políticas discriminatórias, exacerbadas nos últimos seis anos pelo governo e pelas invasões de organizações criminosas, que agravam as mudanças climáticas. Para enfrentar isso e continuar contribuindo para o equilíbrio climático, a APIB declarou a Emergência Climática.

Indígenas Apontam Caminhos para Enfrentar Emergência Climática no ATL 2024

No 20º Acampamento Terra Livre (ATL), lideranças discutiram os desafios das mudanças climáticas e seus impactos nos povos indígenas. Fernanda Kaingang, diretora do Museu dos Povos Indígenas, destacou a necessidade de valorizar o conhecimento indígena e denunciar o sequestro da propriedade intelectual dos produtos extraídos das florestas. Ela defendeu que a ciência indígena seja reconhecida, que o consentimento informado seja obtido e que os benefícios do uso do conhecimento indígena sejam repartidos.

Gênero e Tragédias Socioambientais

No segundo dia do ATL, 23 de abril de 2024, a plenária “Mulheres Biomas na construção de agendas rumo à COP 30”, organizada pela Anmiga, abordou a crise climática e a violência contra mulheres indígenas. Marinete Tukano, da articulação Makirae’ta, destacou que a proteção das mulheres indígenas é essencial na luta climática, denunciando a criminalização de suas lideranças e a violência que enfrentam. Ela leu uma carta assinada pela Makirae’ta e Anmiga sobre a situação das mulheres indígenas no Estado.

Povos Indígenas, Mudanças Climáticas e Incidência Política

Os povos indígenas desempenham um papel crucial na conservação dos ecossistemas devido ao seu uso sustentável dos recursos naturais. Um estudo de 2020 na revista Proceedings of the National Academy of Science mostrou que, enquanto o desmatamento aumentava na Amazônia, as terras indígenas apresentavam índices irrelevantes de desmatamento devido ao manejo sustentável. Esses territórios são essenciais para a preservação das florestas, biodiversidade e estoques de carbono, ajudando a regular o clima e mitigar o aquecimento global.


Membros da Rede de Cooperação Amazônica (RCA) e Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) na Primeira Reunião do Grupo de Trabalho Facilitador da Plataforma de Comunidades Locais e Povos Indígenas – Fórum Internacional de Povos Indígenas para Mudanças do Clima.

Oito Mil Famílias Indígenas São Afetadas pelas Chuvas no RS

Chuvas recentes no Rio Grande do Sul afetaram 8 mil famílias indígenas em 80 comunidades. A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e associações relataram destruição de aldeias, evacuação de pessoas e isolamento devido a danos em estradas. Comunidades Guarani Mbya, Kaingang, Xokleng e Charrua em cerca de 50 municípios gaúchos foram impactadas, segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e outras instituições.

Chuva no RS Alaga Terra Indígena do Povo Kaingang Afetada pelo Marco Temporal

Após chuvas, a terra indígena Segu no norte do Rio Grande do Sul alagou, desabrigando 27 famílias Kaingang. Elas foram realocadas para Constantina por oito dias, e três casas foram destruídas. A comunidade de 135 indígenas vive em apenas um hectare às margens do rio Xingu e não tem para onde ir em caso de novas enchentes. A terra não está regularizada; o processo de demarcação iniciado pela Funai em 2009 foi rejeitado posteriormente com base na tese do marco temporal.