• Abertura – Vivências Indígenas na Pandemia de Covid-19

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Vivência…por mais banal que essa ideia seja, justamente por estarmos todos, de algum modo, “vivendo”, há múltiplas possibilidades de compreendê-la e praticá-la. Concepções que podem ser não só diferentes, mas antagônicas àquela que compartilha-se na cosmologia hegemônica do ocidente moderno – branco, patriarcal e capitalista.

por estarmos todos, de algum modo, “vivendo”, há múltiplas possibilidades de compreendê-la e praticá-la.

Na percepção do povo Krenak, por exemplo, vivência significa muito mais do que simplesmente estar vivo, ou, viver. Trata-se de uma forma de estar no mundo na qual não se pode separar os seres vivos dos “não viventes”; ou, as pessoas dos animais, rios, plantas e pedras; enfim, não se pode conceber a humanidade a parte da natureza, são entes que conformam, de maneira integrada, a teia da vida. Assim como nos ensina um dos mais influentes líderes indígenas do Brasil, que também é um dos mais importantes pensadores da contemporaneidade, Ailton Krenak, vivência implica uma interconexão com a natureza, respeitando seus ciclos. Além do mais, nesta perspectiva, os interesses coletivos e comunitários estão acima das vontades, vaidades e decisões individualistas ou de pequenos grupos de poder. 

Fundamentalmente, vivência significa, para os povos indígenas de maneira geral, um ato de resistência ante às opressões históricas típicas do projeto colonial que, ainda hoje, está em curso. 

A exposição Vivências Indígenas na Pandemia propõe pensarmos que outro mundo é possível, um mundo em que a vivência humana esteja em harmonia com a sustentabilidade do meio ambiente. Para tanto, é indispensável não só a consciência de que há um rastro de violência contra os povos indígenas, negando a eles o direito às suas cosmovisões ancestrais e sua própria condição de humanidade – cenário intensamente agravado com a pandemia de COVID-19. É preciso assumir que todos somos responsáveis pelo mundo que compartilhamos e vivemos, ainda que de forma tão diversa e plural. E isso requer, acima de tudo, coragem, requisito básico da resiliência dos indígenas deste país, com os quais todos temos muito a aprender. 

Assim sendo, o Museu Diários do Isolamento – MuDI orgulhosamente apresenta sua nova exposição de curta duração, que teve início já no mês de março deste ano, com a roda de conversa intitulada “Memórias e Vivências Indígenas na Pandemia de COVID-19”, produzida em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural da UFPel. Inicialmente, trazemos recortes das discussões e contribuições dos convidados e participantes do evento. A mostra destaca, também, a pluralidade dos povos indígenas no Brasil, além de acentuar a importância da atuação de alguns sujeitos sociais, indígenas ou não, tais como indigenistas, acadêmicos, cientistas e políticos. Aborda, ainda, particularidades como o acesso à saúde, a vacinação, entre outras, em um contexto de crise climática que resulta em eventos extremos, tais como a própria pandemia e os recentes alagamentos no Rio Grande do Sul. 

Que esta exposição possa ensejar alternativas no sentido de imaginar vivências outras, afinal, como disse Txai Suruí, jovem ativista do povo Paiter Suruí, em seu discurso na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26) em 2021, “é preciso ter coragem para falar que os sonhos não são só sonhos, mas planos”.

Ficha Técnica

Coordenador Geral
Daniel Maurício Viana de Souza

Curadoria

Camila de Macedo Soares Silveira
Mariana Brauner Lobato
Miriã da Mota de Souza
Gabriela Gonçalves da Rosa Ferreira

Equipe
Luana de Avila Spagiari
Luisa Brito de Costa
Luize Vargas Abreu
Isadora Costa Oliveira
João Pedro Peccini
José Paulo Siefert Brahm