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21/09/2020 por 

Ciclos: fins e recomeços

“A convenção tem a vantagem de provar que as decisões do espírito e da vontade transcendem as circunstâncias”. (Marguerite Yourcenar)

> A Escola de Belas Artes foi fundada em 1949 por uma mulher de 53 anos.

> A EBA era particular, mas também possuía gratuidade para estudantes.

> Uma mulher negra e pobre descobre seu talento como escultora.

Gotuzzo, após os estudos na Europa, radicou-se no Rio de Janeiro e sempre manteve fortes vínculos com Pelotas. Nesta semana, publicamos pinturas do acervo e do catálogo de paisagens de Pelotas e região, e um Retrato de Dona Marina de Moraes Pires, de 1926.

Além de Locatelli, outro artista importante que foi professor da Escola de Belas Artes foi Antônio Caringi. Grande escultor, assumiu a cadeira de escultura de 1950 a 1953. A mais recente coleção do MALG é a Coleção Antônio Caringi, que visa incentivar o conhecimento desse importante artista que possui obras, estudos para conhecidos monumentos e instrumentos de trabalho no acervo do museu – aqui, apresentamos um estudo para o “Monumento às mães” e “Negrinho do pastoreio”, amos do acervo e catálogo do MALG.

Na área de escultura do período da Escola de Belas Artes outro importante destaque é Judith Bacci, mulher, pobre e negra. Dona Judith prestava serviços como zeladora, além de morar com marido e filhos na escola e ter um bar no local. Observando as aulas foi assimilando as técnicas e começou aos poucos a produzir trabalhos artísticos e a conviver com artistas e professores, especialmente Bruno Visentin e Nesmaro que foram hóspedes em sua casa. 

Embora reconhecida como artista “ingênua” ou autodidata enquanto viva, Dona Judith se destacou produzindo bustos e esculturas relacionadas à Umbanda, como a Iemanjá do Balneário dos Prazeres (Pereira, 2018). De Judith Bacci, do acervo do MALG, “Mãe preta amamentando menino branco”, de 1988.

A Escola de Belas Artes, inaugurada em 1949, foi mantida até 1973 principalmente pelos incansáveis esforços de Dona Marina de Moraes Pires, sua fundadora. Em 1949 Dona Marina contava com 53 anos, possuía sete filhos, e permaneceu na direção da escola até sua incorporação pela recém criada UFPEL (fundada em 1969). Dona Marina tinha então 77 anos.

Em 2009, nas comemorações pelos 60 anos de criação da EBA organizadas por Clarice Magalhães, Carmen Regina Diniz e Ursula Rosa da Silva, a neta de Dona Marina, Janice Pires Corrêa Franco, publicou o livro “Diários de Marina”, a partir dos diários da avó. A última data do Diário – que vai de 1948 a 1973 – é o dia que Dona Marina entrega as chaves da Escola de Belas Artes para Nina Paixão, a nova vice-diretora do recém criado Instituto de Artes da UFPEL – atual Centro de Artes:

“Dia 17 de julho, 1973, terça-feira. Na Belas Artes entregando a direção e as chaves a Nina. Levei marrons glacês para amenizar as agruras da despedida”.

Em 2020, o Centro de Artes possui 18 cursos entre graduação e pós-graduação, e dois órgãos suplementares: o MALG e o Conservatório de Música de Pelotas.


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