Description
Magliani, por João Iganci - diretor do Museu Carlos Ritter e professor do Instituto de Biologia/UFPEL.
"Escolhi Magliani que foi uma amiga pessoal durante a temporada em que vivi no Rio de Janeiro. As impressões que trago a respeito da obra "Retrato com pesadelo" são também um pouco da imagem que tenho desta mulher incrível de personalidade forte e contestadora, mas que ao mesmo tempo tinha um humor sarcástico muito apurado.
Maria Lídia Magliani nasceu em Pelotas, em 1946. Mulher, negra, artista e militante feminista e política. Sua obra retrata estes aspectos de forma recorrente, provocando o questionamento acerca de questões sociais e políticas.
Ainda jovem, Magliani estudou Belas Artes e teve destaque exibindo suas obras em importantes mostras e salões de arte no Brasil e no exterior. Viveu por muitos anos na cidade de São Paulo e, posteriormente no Rio de Janeiro, onde permaneceu até sua morte em 2012.
Magliani retrata ao longo de sua carreira figuras humanoides disformes, inquietantes, que passam por diferentes fases da sua produção artística e intercalam com fases mais vibrantes ao final de sua vida, que remetem à arte Pop. Estas figuras humanoides aparecem em muitas obras, como na série “Todos” e em inúmeras outras. Estas figuras transmitem sentimentos de angústia e aflição e retratam muito de sua personalidade.
A obra “Retrato com pesadelo” foi elaborada em 1991, em óleo sobre tela, medindo 122 x 121 cm. Retrata uma figura feminina nua, representação recorrente na obra contestadora de Magliani. A imagem desfigurada em primeiro plano, em tons azulados, transmite a sensação desesperadora de um pesadelo, onde a mulher parece correr e fugir de 13 outras figuras humanoides posicionadas ao fundo.
Esta obra provoca reflexões sobre o feminino, sobre fragilidade, medos e inseguranças, sensações que jamais tive ao conversar com Magliani, uma mulher forte e determinada, mas que retratava seus pesadelos e inquietações na forma de arte, e provoca ainda hoje discussões libertadoras sobre a realidade da mulher e do negro no nosso país".
