Descrição Geral e/ou Histórico
A loja Bandolim de Ouro foi uma das mais tradicionais lojas de instrumentos musicais do Rio de Janeiro. Além de vender instrumentos, fabricados na própria loja, como por exemplo, os da marca Do Souto, a loja tinha a tradição de ceder o seu espaço para professores darem aulas de música. O grande violonista Dino 7 Cordas foi um desses professores.
A roda de choro da Bandolim de Ouro teve início em 2004 (R. Marechal Floriano, 52) por iniciativa de Julinho, professor de cavaquinho da loja. Ele estava interessado em encontrar um lugar de referência onde pudesse reunir músicos de choro e pessoas interessadas em instrumentos musicais. No primeiro encontro, em uma quarta-feira, no final do expediente, estavam presentes Abel Luiz, Patrick (violão 7 cordas), Julinho (cavaquinho), Zé do Cavaco (professor da loja e cavaquinista), Pedro Moita (pandeiro) e ao final, apareceu o bandolinista Déo Rian. A roda era acústica e localizada no andar de cima, onde os professores davam aulas. Posteriormente a roda foi transferida para os sábados, de 9h às 12h. Uma das principais características da roda era sua total abertura a músicos profissionais e amadores indistintamente. Aos sábados as rodas passaram a ter alguns instrumentos amplificados (violão de 7 cordas, cavaquinho de centro e instrumentos solistas de cordas).
Havia um grupo fixo, liderado pelo músico veterano Vadinho (bandolim), com os seguintes integrantes: Cidinho (violão 7 cordas), Siqueira (cavaquinho), João da Sadia (cavaquinho), considerados “sustentáculos” da roda, Julinho (cavaquinho), Facão (pandeiro), Wilson, irmão de João (pandeiro) e Severino (pandeiro). Havia músicos que frequentavam de forma constante, como Caçula (violão e cavaquinho), Paulo Torres (violão 7 cordas), o bandolinista canhoto Olavo do Bandolim, Thereza da Conceição (violão de 7 cordas), Paulo Mota (bandolim e cavaquinho), Newton Nazareth (bandolim), e outros visitantes, vindos de vários lugares da cidade. Compareciam profissionais como o bandolinista Déo Rian até alunos da Escola Portátil de Música. Participavam da roda mais de 20 músicos, incluindo alguns estrangeiros. A presença de Siqueira sempre foi reverenciada na roda, pois, ao lado do trombonista Zé da Velha, é remanescente do Conjunto da Velha Guarda, que acompanhava Pixinguinha, Donga e João da Baiana.
Além de clássicos do repertório do choro, a roda era aberta à produção autoral dos integrantes (Siqueira, Cidinho, Déo Rian, Ubyratan de Oliveira, Abel Luiz) além de choros menos conhecidos de autores como Cincinato, Nola, Juventino Maciel, entre outros. Além dos gêneros choro e choro-sambado, tocava-se frevo, modinhas, serestas, sambas instrumentais, maxixes, schottischs, baiões, etc.
Quando Vadinho faleceu, o bandolinista Renato passou a coordenar o grupo fixo da roda de choro. Quando Renato faleceu, o violonista de 7 cordas Cidinho e o cavaquinista João da Sadia passaram a assumir a função, já no terceiro endereço da loja (Rua Marechal Floriano, 120).
Quando a loja foi transferida para a Praça da República as atividades da roda foram suspensas por um período e voltaram a acontecer por conta de um projeto pedagógico mensal (às sextas-feiras à tarde) do cavaquinista Abel Luiz (Sivuquinha) chamado Café Sonoro. A ideia era promover encontros entre músicos jovens, iniciantes ou não, com músicos veteranos, de forma gratuita, construindo um espaço solidário de ensino-aprendizagem. Segundo Abel, os instrumentos não eram amplificados, intencionalmente, para que os músicos entendessem a intensidade do volume que poderiam tocar para não interferir no som dos outros. As rodas aos sábados foram então retomadas, quinzenalmente.
Quando a loja Bandolim de Ouro saiu da Praça da República, foi transferida para uma casa na Rua Gonçalves Crespo, 52, na Tijuca, e se tornou o Ateliê Do Souto. Sua atividade principal é a fabricação de instrumentos musicais Do Souto. O Ateliê é coordenado por Daniela, neta do fundador da loja Bandolim de Ouro. As rodas também foram suspensas por um período e retomadas a partir da iniciativa de Cidinho 7 Cordas (coordenador) e Abel Luiz (Sivuquinha), no final de 2019 até às vésperas do início da pandemia, em março de 2020. Embora o nome do estabelecimento tenha mudado, os frequentadores continuam chamando o evento de Roda da Bandolim de Ouro.
Abel considera que a loja Bandolim de Ouro teve uma contribuição fundamental no campo da luteria, e da construção de uma identidade sonora dos instrumentos (principalmente cavaquinhos, violões e bandolins) e da própria música (choro e samba). Segundo ele, as referências de timbre foram construídas a partir do diálogo que se estabeleceu, de maneira afetiva, entre os músicos, artesãos e luthiers que frequentavam a loja, na busca por uma sonoridade ideal.
A roda teve destaque na imprensa, em matérias do jornal O Globo e da TV Record devido à sua tradição e pela quantidade de expectadores que atraía.
