Metadados
Está ativa? (considerar as rodas e lugares ativos até a pandemia)
Não
Região
Cidade/Estado
Endereço
Botafogo
Descrição Geral e/ou Histórico
As rodas de choro na casa do flautista Gerson Ferreira Pinto, em Botafogo, tiveram início em torno do ano 2000 e duraram cerca de dois anos. A reunião, aos sábados, era feita com um grupo fixo de músicos remanescentes do conjunto Amigos do Choro, do qual Gerson fez parte, na década de 1970, além de músicos amigos convidados.
O embrião do conjunto Amigos do Choro se formou a partir das reuniões musicais, aos sábados, ainda na década de 1960, na casa de Jair Justino de Oliveira, músico natural de Guiricema, MG, e clarinetista da Banda do Corpo de Bombeiros do RJ. O núcleo inicial era formado pelos violões de Jair Justino de Oliveira, Carlos Eduardo e Adoniran Borges (7 cordas), a flauta de Gerson Ferreira Pinto e o bandolim de Belmiro Pinho. Aos poucos foram se somando ao grupo outros integrantes, como Altair Manoel dos Reis, o Reizinho, (cavaquinho), Waldir Carpenter, conhecido como o Pança (pandeiro) e Nilza Peixoto de Oliveira (afoxé). Eram solicitados para tocar, com frequência quase semanal, em aniversários e reuniões em casas de famílias, cuja coordenação de produção era feita por Jair. Dessas reuniões também participavam os bandolinistas Déo Rian e Pedro Amorim. Os Amigos do Choro tinham um vasto repertório, todo organizado, com arranjos. O Bar do Abraão, na Tijuca, Zona Norte do Rio de Janeiro, foi outro ponto de encontro importante, frequentado por alguns dos integrantes do grupo (Jair, Carlos Eduardo e Gerson), onde faziam rodas de choro e acompanhavam os cantores presentes. Abraão Haddad, o dono do bar, foi um verdadeiro “Rei Momo”, segundo Gerson. Era animadíssimo, um entusiasta do carnaval, e uma enciclopédia de letras de músicas antigas.
Com o falecimento repentino de Belmiro o grupo passou um período sem um segundo instrumento solista, e em 1972 o bandolinista pernambucano Rossini Ferreira passou a integrar o grupo. Belmiro havia sido um excelente músico, segundo Gerson. Ele e seu irmão eram amigos do citarista Avena de Castro. Quando Avena vinha ao Rio, tocavam geralmente na casa do irmão de Belmiro.
O Amigos do Choro, com a presença de Rossini, atuou durante toda a década de 1970, com sucesso, apresentando-se na TV Globo, participando de importantes festivais e concursos de choro. No 1º Concurso de Conjuntos de Choro promovido pela Secretaria Municipal de Educação e Cultura do Município do Rio de Janeiro, em 1977, foram vencedores dos prêmios de melhor grupo de choro e melhor choro inédito, com Recado de Rossini Ferreira. No 1º Festival Nacional do Choro – Brasileirinho, na Rede Bandeirante, no mesmo ano, conquistaram o primeiro lugar com o choro Ansiedade, de Rossini Ferreira. Em 1978 o grupo gravou o seu primeiro LP e foi convidado pela Secretaria de Cultura do Município a fazer uma série de quatro apresentações no Planetário da Gávea, no Rio de Janeiro, recebendo como convidados o flautista Durval Berrêdo Guimarães, o citarista Avena de Castro, a pianista Josefina Mignone e o craviolista Vivaldo Medeiros. Gerson conta que o conjunto era tão organizado que a gravação do LP “foi feita em apenas uma manhã, sem praticamente nenhum ensaio”. O pandeirista Waldir Carpenter, o Pança, foi substituído por Wilson Deão da Cunha na gravação do LP.
Quando as rodas passaram a acontecer na casa de Gerson, por volta do ano 2000, o bandolinista Rossini já havia retornado para seu estado natal. O violonista Jair, que elaborava os arranjos dos violões em tercinas, já havia falecido e no lugar dele tocava o violonista Sérgio Régis, que foi aluno do violonista Meira. Outros músicos que tocaram nessas rodas foram os bandolinistas Déo Rian e Bruno Rian, os cavaquinistas Sérgio Prata e Paulo Heleno, do grupo Conversa de Cordas. Gerson conta que, quando havia um segundo solista, isso era muito apreciado, pois podiam ficar livres para revezar solos e contrapontos, mas nem sempre isso era possível. Quando Sérgio Régis faleceu, inesperadamente, o grupo não quis mais se reunir.
Apesar da intensa atividade artística nos anos 1970, a atuação profissional de Gerson foi na área de Engenharia Química. Tem mestrado em Engenharia Química na COPPE-UFRJ e doutorado em Bioquímica, também na UFRJ, onde atuou como professor até a sua aposentadoria.
Gerson se interessou em pesquisar fontes primárias de choro ainda nos anos 1970. Nesta ocasião conheceu o pesquisador Ary Vasconcelos, de quem ficou amigo. Manteve um importante acervo musical de partituras de chorões antigos, doado pela família do flautista Berredo, que foi copiado por Mauricio Carrilho e Anna Paes na pesquisa Inventário do Repertório do Choro no Século XIX, e está disponível no acervo da Casa do Choro. Manteve contato com os filhos do flautista Juca Kalut, de quem obteve preciosas informações biográficas.
Informações Complementares
Ary Vasconcelos redigiu o texto de apresentação do LP Amigos do Choro. Do encarte do LP, destacamos o seguinte trecho: "[...] pois dizer que todas as músicas são belíssimas, que Rossini é um gênio do bandolim, que Gerson toca uma flauta de ouro, que os violões, comandados por Jair dão uma consistência esplêndida, que a percussão completa o som característico do conjunto, o que todos irão constatar à mera audição do disco. Portanto, nada mais falta a não ser ouvir. Isto é, consumir, prato a prato, este esplêndido banquete sonoro que os Amigos do Choro nos servem para gozo total dos ouvidos. Em matéria de choro, pelos menos - para usar uma expressão muito usada pelo chorão - escritor - Alexandre Gonçalves Pinto, neste álbum “o gato não dorme no fogão'".
Referências
PINTO, Gerson Ferreira. Depoimento à equipe de pesquisa realizado em 17 de agosto de 2021.
Verbete do Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira. Gerson Ferreira Pinto. Disponível em https://dicionariompb.com.br/gerson-ferreira-pinto/dados-artisticos. Acesso em 18 de agosto de 2021.
CHAVES, Sandra. Berrêdo – Ainda existe (e toca) um dos chorões históricos. Jornal do Brasil, Caderno B, Rio de Janeiro, edição de 1978. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=030015_09&Pesq=%22Clube%20do%20Choro%22&pagfis=184315 Acesso em 13 de agosto de 2021.