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Umbandistas celebram a Rainha das águas, Iemanjá 3
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Documento
Metadados
Miniatura
Número de registro
0171
Estado
Rio Grande do Sul
Cidade
Rio Grande
Data de Criação Final
2022
Técnica
Digitalizado
Não
Nato Digital
Sim
Autoria de quem reproduziu a digitalização
N/A
Técnica utilizada na digitalização
N/A
Coleção
Descrição (iconografia)
Umbandistas celebrando a Rainha das águas, Iemanjá, na beira do mar.
Doador
Tamanho (MB)
2 Mb
Histórico/contexto
De acordo com a Mitologia afro-brasileira, Iemanjá, é a grande mãe africana do Brasil, deusa dos oceanos, deusa da foz dos rios e quebra-mares, na África é associada aos rios. Na religião de matriz europeia ela é conhecida como Nossa Senhora dos Navegantes que é a protetora dos pescadores. Por ser rainha das águas e protetora dos pescadores, Iemanjá é homenageada anualmente, no segundo dia do mês de fevereiro. Vê-se esta como a festa religiosa mais importante da cidade. Uma característica do festejo é ocorrer o encontro das duas imagens durante o percurso marítimo, no qual são mobilizados milhares de fiéis na cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul. Segundo Farinha et al.(2013) no Estado do Rio Grande do Sul, a celebração mais antiga de Nossa Senhora dos Navegantes é, possivelmente, a realizada em São José do Norte, cuja Matriz possui uma imagem barroca dessa invocação. A Festa em muitas cidades do país tem proveniência a partir do ofício do Pescador. Já antiga Festa de Navegantes de Pelotas foge deste contexto, sendo elaborada ,não sob o contexto do trabalho do pescador, mas pela proximidade do bairro ao Porto de Pelotas, onde ocorria intensa atividade comercial na cidade no transporte de mercadoria por via fluvial. As religiões de matriz africana podem ser subdivididas a partir dos símbolos e manifestações envolvidas. O batuque tem seu culto voltado para doze orixás e se divide em nações, com a fundação dos primeiros terreiros nas cidades de Pelotas e Rio Grande no início do século segundo o autor Marco de Mello. A linha cruzada ou quimbanda iniciada na década de 1960 se caracteriza pelo culto de entidades típicas como exus e pombagiras, já a umbanda surgiu no Rio Grande do Sul por volta de 1930, é uma mistura de rituais e crenças de africanos e europeus. Acredita que o universo seja povoado por entidades espirituais. Podemos entender isso como uma diversidade religiosa e cultural de forma que diversidade se constitui como patrimônio comum da humanidade e deve ser reconhecida “[...] Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira”. (BRASIL, 1988, art. 216). Isso significa que as religiões de matriz africana devem ser tratadas e reconhecidas como um bem cultural no seu aspecto imaterial. Estes segmentos das religiões de matriz africana influenciam diretamente na vida de seus praticantes, pois cada orixá representa uma força da natureza, e cada um deles é responsável por manter uma determinada ordem e isso influencia na busca pela identidade de forma geral e social de cada indivíduo. Por Rosemar Lemos Desde criança sou devota da Orixá Iemanjá. Habitualmente, ao longo dos anos, no dia 2 de fevereiro, com minha avó materna ou meus pais ia na sua gruta, localizada no Balneário dos Prazeres (conhecido como Praia Barro Duro, Pelotas-RS) para reverenciá-la. Porém, de 2015 para cá comecei a pesquisar mais a fundo o significado e importância das festas em sua homenagem como parte do Patrimônio Imaterial Brasileiro. Fiz uma imersão em Portugal mediante estudos de pós-doutorado com financiamento da CAPES, produzindo o documentário, “O grande Legado”. Ao retornar, com o auxílio de muitos pesquisadores parceiros, dei início às movimentações para a criação do Museu Universitário Afro-Brasil-Sul - MABSul, o qual existe há 2 anos. Nesse contexto passei a fotografar todas as esculturas de Iemanjá que ia encontrando durante minhas viagens. Pelotas-RS, São Lourenço do Sul-RS, Rio Grande-RS, são alguns dos lugares registrados. E, no dia 2 de fevereiro de 2022 era um outro momento parecido com os aqui já descritos. Pretendia perceber de que forma as pessoas estavam fazendo seus agradecimentos e promessas para a Orixá das águas. Foi quando me deparei com uma terreira de umbanda. Todos caprichosamente uniformizados, com um sublime toque de tambor, um céu lindo e, então, pedi para meu marido estacionar o carro. Peguei meu celular e a máscara descartável e disse: Irei ali fazer algumas fotos e já volto. Que nada!!! Aquela energia me envolveu. O toque do tambor, as oferendas feitas, o trabalho firme, o céu que parecia uma pintura, as sereias e caboclas vindo a terra, os alabês indo saudar a Mãe Iemanjá. Toda aquela atmosfera me prendeu ali e, mais uma vez, agradeci a mãe Iemanjá por ter me levado naquele lugar. Daí já parei de fotografar e comecei a filmar. Queria compartilhar com as pessoas quão lindo são os rituais de matriz africana. Quão linda é a fé que une negros e não negros, que energiza e fortalece para as batalhas da vida e pensei… Há, irei registrar tudo, não posso perder, depois peço para divulgar, as pessoas precisam sentir o que estou sentindo… Nossa herança africana é linda e as pessoas precisam conhecer para que, principalmente as crianças, na escola, que seguem esta religião não sejam descriminadas. E, depois de feitos todos os registros, falei com um filho da Casa que me indicou a Mãe Tereza. Fui ao seu encontro, contei-lhe quem eu era, sobre os registros que tinha feito e lhe pedi seu contato para que pudesse enviar todos os registros feitos e pedir-lhe depois, a permissão para divulgá-los no MABSul. Eis o resultado, agradeço a Mãe Tereza e aos filhos de seu Ilê pela permissão, assim como aos pesquisadores e apoiadores do MABSul, pela possibilidade de compartilhar com o mundo a beleza da religiosidade de matriz africana no sul do Brasil enriquecendo ainda mais o acervo da Coleção Religiosidade, reduzindo desta forma a força e os danos produzidos pelo racismo. Axé! Fontes: BRASIL. Universidade Federal de Pelotas. Ministério da Educação. Museu Afro-Brasil-Sul: coleções. Coleções. 2022. Elaborado pelo Grupo De pesquisa CNPQ - Design, Escola e Arte - DEA - Desvendando patrimônios, construindo conhecimento e fazendo arte CA/UFPEL. Disponível em: . Acesso em: 27 fev. 2022. (a) BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em: . Acesso em: 27 de fev. de 2022. FARINHA, Alessandra Buriol; MICHEL Jerusa Oliveira; CARLE, Claudio Baptista.2013. A festa de navegantes na Colônia Z-3 de Pelotas: uma questão de identidade e fé. Disponível em: acesso em 19 de agosto de 2013 INSTITUTO DE PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL (Brasil). Patrimônio Imaterial. 2014. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/234. Acesso em: 26 fev. 2022. MUSEU AFRO-BRASIL-SUL. Museu Afro-Brasil-Sul, c2020. Página inicial. Disponível em: . Acesso em: 27 de fev. de 2021.
Autoria
Data de Recebimento
03/05/2022