Histórico/contexto
"Cachimbos Para os estudos arqueológicos sobre diáspora africana, os cachimbos são artefatos fundamentais. Eles permitem a comparação entre os cachimbos produzidos por escravos nas Américas e aqueles confeccionados em várias regiões da África, especialmente a África Ocidental e Central, de onde vieram para as Américas a maioria dos africanos escravizados. Essas comparações possibilitam entender as cosmologias, formas de viver e pensar, de africanos escravizados e seus descendentes. É importante destacar que o tabaco é uma planta americana que foi introduzida, na África, pelos colonizadores europeus, a partir do século XVII. O tabaco fez parte do comércio colonial e do tráfico de africanos. Era utilizado na troca por escravizados. E, por ser uma erva com efeitos relaxantes, era distribuído para evitar revoltas nos navios negreiros. Os africanos, porém, deram outros significados ao tabaco. Tanto é assim que as pessoas manufaturavam os cachimbos e os decoravam segundo suas cosmologias e símbolos culturais. De um modo geral, os cachimbos utilizados por escravizados no Brasil eram fabricados por meio de duas tecnologias de confecção: os feitos em moldes e as peças modeladas. No primeiro caso, usavam-se moldes para a produção em série de cachimbos; no segundo caso, o artefato era construído por gestos individuais, pelas próprias mãos dos escravizados. Pode-se dizer, assim, que enquanto a primeira técnica é de feitio industrial, a segunda é individualizada, mais personalizada, carregando, portanto, a cosmologia e os símbolos de preferência do escravizado. Os fragmentos de cachimbos encontrados na senzala da Charqueada São João são indiscutivelmente modelados. Isto aponta para o caráter personalizado desses artefatos. Eles eram utilizados tanto por homens quanto por mulheres e geralmente estavam associados ao aspeto do lazer, mas, também, podiam formar parte de contextos rituais. "