Histórico/contexto
"Quartinha A quartinha é um objeto vivo nos cultos afro-brasileiros. Embora não possamos afirmar categoricamente que tenhamos encontrado, na senzala da Charqueada São João, uma quartinha que foi usada em rituais, sua morfologia e dimensão coincidem com as de quartinhas tradicionalmente usadas na Umbanda e no Batuque. E alguns babalorixás e ialorixás a classificaram como quartinha. Historicamente, as quartinhas eram feitas de barro. Por isso podemos dizer que as quartinhas são objetos vivos na cosmologia afro-brasileira. Há relações entre elas e os corpos humanos. Feitas de barro, as quartinhas, assim como nossos corpos, transpiram. Água, sangue ou bebidas despejadas em seu interior evaporam. Como objetos, elas intermediam as relações entre humanos e não humanos, entre os coletivos humanos e as entidades espirituais. Daí elas serem indispensáveis nos assentamentos e axés plantados. Elas consagram os lugares ancestrais e os terreiros. Aos Orixás masculinos são oferecidas quartinhas de barro sem alça; às Orixás femininas, por sua vez, são oferecidas quartinhas normalmente de louça ou mesmo de barro com alça. As quartinhas também são chamadas de Busanguê, Eni, Amoré e outros nomes, dependendo da nação africana. A quartinha que encontramos na senzala da Charqueada São João é exatamente feita de barro e possui alça. Pode estar associada, assim, a alguma divindade feminina. Ela não é artesanal. Foi feita em torno e adquirida no mercado. Pesquisas mais recentes têm indicado que essa quartinha pode ter sido exportada para Pelotas de um centro oleiro chamado Maragogipinho, na Bahia. Nesse centro eram produzidas quartinhas chamadas de Caboré. Alguns exemplares foram encontrados numa escavação arqueológica em um sobrado no Pelourinho, em Salvador, especificamente no porão da casa, cujo espaço foi consagrado como tereiro. "