Histórico/contexto
O ser humano Brenda Lee Eu conheci o Rogério quando trabalhávamos na Câmara de Vereadores. Logo ficamos amigos. Sabe quando bate o santo? Pois é, bateu. A gente tinha uma sintonia forte, uma cumplicidade e uma parceria tão fortes quanto. Mais adiante ele me apresentou a Brenda Lee. Rogério era discreto, quieto. Brenda o glamour em pessoa. Impossível não notar a presença forte e marcante dela. E o carisma? Onde chegava juntava gente à volta. As crianças ficavam encantadas com aquela figura super maquiada, cabelão, lentes azuis e roupas coloridas, geralmente com muitas franjas e brilho. Seu espírito de solidariedade era imenso e talvez as pessoas que não eram tão próximas soubessem disso. Sempre ajudou quem precisava e sem aparecer. A paixão pelo Carnaval era um ponto marcante. Vivia a folia o ano todo. Ensaios, festas, desfiles, tudo era vivido intensamente e com uma alegria contagiante. A rainha das rainhas dos burlescos, a rainha gay de escola de samba, a Brenda Lee do samba. Participava ativamente das comemorações LGBTQIA+ e ensaiava suas apresentações com afinco. Escolhia músicas, figurinos. O negócio era levado a sério, até porque precisava passar sua mensagem. Amigas há mais de 20 anos, fui também a última repórter a entrevistá-la. O tema era a sua formatura em Psicologia pela Universidade Católica de Pelotas. Seria a primeira travesti em Pelotas a receber o diploma montada. Estava tudo pronto para aquele que seria o dia mais feliz da vida dela. Estava radiante e todos nós muito felizes. Era uma conquista maravilhosa. Era ultrapassar barreiras, romper preconceitos e ser simplesmente ela. Exuberantemente ela. Ser Brenda Lee. Mas não foi assim. Brenda foi arrancada de nós, vítima de homofobia, como tantas outras pessoas que têm a vida ceifada pelo ódio e preconceito. Brenda não se formou. Sua trágica morte não é mera estatística. Prefiro acreditar que foi mais uma luta. Perdeu a vida, mas chamou atenção para a causa de uma maneira muito marcante, como tudo que vinha dela. Causou comoção em toda a comunidade. Não foi só mais um assassinato. Foi a morte de Brenda Lee. Tânia Cabistany – Jornalista e amiga